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27/07/2014: "Tesouro escondido"

Comentário ao Evangelho da 17ª Semana do Tempo Comum: Mt 13,44-52

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E se as palavras mais caras à nossa humanidade tornaram-se incomunicáveis? Entre o excesso de informações e a saturação de sons, imagens e palavras – que nos levam aos lapsos de memória e à repetição – corremos o grave risco de uma comunicação estéril, que não traduza eficazmente o que há de mais caro à nossa existência comum. Ouvidos desatentos, falas desgastadas pelo tempo e pela experiência: como superar essa cisão e impedir que a linguagem que nos une seja justamente aquela que nos separa?

Talvez por isso Jesus falasse em parábolas. Longe de toda definição precisa, ele preferiu envolver suas experiências mais íntimas, a do Pai e a do Reino do Pai, em imagens e palavras que dessem a pensar. Mas não só. Agiu como um interlocutor que, ao aproximar-se dos seus destinatários, quis criar um espaço para aquele que ouve achegar-se, acomodar-se, identificar-se com o falado e também se expressar. Fez da linguagem a morada do ser. Dizendo livremente das coisas do coração, Jesus pode tocar o coração dos ouvintes, dando voz a seus desejos inconfessáveis, trazendo à tona a liberdade perdida, o desejo e a coragem de viver.

Desenrolando o silêncio mais profundo, lugar da experiência com seu Abbá, em falas cheias de densidade humana, Jesus também não deixou de se preocupar com a compreensão de seus discípulos. “Entendestes tudo isso?” (Mt 12,51) – é o que Ele pergunta aos seus, ao final das três comparações para falar do Reino dos céus, que encontramos nesse evangelho. Não parece ser uma preocupação doutrinal; se os discípulos estavam aptos para repetir o que o Mestre acabava de ensinar. A pergunta era pela compreensão desde dentro: se eles também faziam a experiência do Reino.

A pergunta vale para todos os que querem seguir Jesus. Experimentamos o que anunciamos? Trata-se do que vimos e ouvimos (1Jo 1,3)? Porque não é incomum encontrar tanta gente debatendo-se com os pesos desmedidos de tantas normas religiosas, ou outras tantas perdidas em meio a tristezas e amarguras, falando do Reino sim, mas sem tê-lo encontrado de fato.

Pois não é preciso ir longe para achar o Reino de Deus (ou dos céus), nem é preciso esperá-lo vindo de alhures. Não está aqui ou acolá, mas segredado, escondido, como um tesouro no campo de nosso coração. Achá-lo é o mesmo que encontrar o que o ser humano sempre sonhou e desejou. Motivo de alegria, não de tristezas e sofrimentos, vale empenhar tudo para adquiri-lo, como um negociante faz ao achar a pérola mais preciosa. Não é assim, afinal, quando encontramos o essencial, o indispensável, o colorido de nossos dias? Tudo o mais não se torna secundário, quando aquele sorriso que reservamos para um momento especial, salta sozinho e o brilho nos nossos olhos convence… Quando nossa natureza dá provas inequívocas de que encontramos a Vida de nossa vida? A mesma pela qual vale empenhar nossas forças?

Assim, Jesus parecia compreender o Reino de seu Pai; como um Reinado em que todos gozariam de vida em abundância, compartilhando a felicidade. Chegar a isso exige desprender-se daquela felicidade egoísta, que não passa de ilusão. Uma ilusão que não chegará a durar muito quando os peixes bons forem separados dos que não prestam e ficar às claras o caminho que cada um resolveu tomar.

Vale por isso discernir: onde está nosso coração? Lá estará nosso tesouro. E falar a partir dele será, então, muito mais do que simples fraseologia, comunicação furtiva ou dispensável, uma repetição incontida do que já estamos cansados de saber. Antes, será dizer de tudo aquilo que o ser humano guarda plantado em si e que demora, mas precisa florir.

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Por, Diácono Eduardo César

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